sexta-feira, 7 de junho de 2013

Obama é muito pior do que Bush. Ou: Republicano recorreu a medidas autoritárias; o democrata, ao estado policial

O governo Obama espionou jornalistas e pôs o Fisco no encalço da direita republicana. Na luta contra o terror, ainda na gestão de George W. Bush, teve início um amplo programa de monitoramento de ligações telefônicas. Obama herdou o programa, é verdade. Decidiu ampliá-lo e o estendeu para os provedores de Internet. Nunca se chegou tão perto do “Grande Irmão”, do livro “1984”, de George Orwell, como agora. Nessas horas, é grande a tentação de decretar o empate e sair por cima, condenando a hipocrisia: nessa perspectiva, republicanos e democratas criticam uns aos outros por aquilo que todos fazem. Na gritaria, pois, ninguém teria razão. Será assim mesmo? Não! Assim seria se não houvesse o regime democrático, as eleições, os compromissos assumidos em campanha.
George W. Bush respondeu como se viu aos ataques terroristas de setembro de 2001. Certa ou errada, a guerra ao terror produziu os seus efeitos também eleitorais. O então presidente foi reeleito em 2004, mas os republicanos foram postos para fora  na eleição de 2008. Obama ganhou nas urnas um segundo mandato. Parcela dos eleitores americanos — e da opinião pública mundial, é bom destacar — pode odiar os republicanos, considerar que Bush era um reacionário insuportável, um, como é mesmo?, “partidário do unilateralismo” (vão escolhendo aí as ofensas…), o diabo a quatro. De uma coisa, no entanto, o ex-presidente americano não podia ser acusado: hipocrisia. Disso, não! Nem ele nem o Partido Republicano. Jamais esconderam o que pensavam e as opções que haviam feito na chamada “guerra ao terror”.
Mas e Barack Obama? Ah, aí a coisa é muito diferente. Não há mero empate entre Bush e Obama porque este foi eleito com o compromisso de mudar a política daquele — e com especial ênfase nessa área dos chamados “direitos civis”, que estariam sendo agredidos em nome do combate ao terror. Quando o monitoramento começou, houve uma primeira grita, que, pessoalmente, considerei exagerada — E ESCREVI ISSO NO SITE PRIMEIRA LEITURA. Há leitores que me acompanham desde lá e sabem disso. É bem verdade que entendia, como entendo, que as escutas têm de ser dirigidas, monitoradas por um comitê independente, de sorte que sejam motivadas e justificadas. Em tempos de guerra e de combate ao terror, programas assim são necessários. É chato, é perigoso, mas não há outro jeito.
Ocorre que, ficamos sabendo agora, a gestão Obama decidiu usar a licença que tinha para combater o terror para espionar quem lhe desse na telha. Fica visível que não há critério nenhum. Todos estão na rede, e o governo pode, a qualquer momento, selecionar o que deseja, a depender sabe-se lá de qual necessidade. QUE ESTE É UM GOVERNO QUE PODE MOBILIZAR O ESTADO CONTRA, POR EXEMPLO, ADVERSÁRIOS POLÍTICOS, ISSO JÁ SABEMOS, OS FATOS JÁ O COMPROVAM.
Obama faturou a eleição desmoralizando, de todas as formas, a gestão de seu antecessor. A sua primeira campanha, como todos se lembram, ganhou ares de defesa dos direitos civis. E, no entanto, o que se tem é isto: um monitoramento das comunicações como nunca se viu, jornalistas espionados e adversários do governo perseguidos por órgãos de estado. Não obstante, aqui e ali, ouvimos um muxoxo: “Ah, são todos iguais mesmo!”. Parece desculpa de mensaleiro: “A gente fez o que todo mundo faz”. Ou ainda: “Aprendemos a fazer isso com o PSDB…”. Pouco importa o idioma, toda esse gente fala a língua franca da vigarice.
Não, não! Sabem por que, nesse particular — e em muitos outros, como já escrevi algumas vezes —, Obama é pior do que Bush, não havendo empate nenhum? Porque o atual presidente dos EUA só está lá por ter prometido a mudança; porque satanizou o outro por conta de programas de monitoramento; porque disse que tudo seria diferente. O RESULTADO DAS URNAS OBRIGAVA OBAMA MORALMENTE A MUDAR O PROGRAMA, A TORNÁ-LO AINDA MAIS RESTRITO. Em vez disso, ele o expandiu e o ampliou para outras áreas das comunicação. É um vexame sem tamanho!
A grita, obviamente, só não é maior porque, afinal de contas, o democrata ainda é um “aliado” de poderosos lobbies politicamente corretos que atuam na imprensa, nas entidades não governamentais, nas redes sociais. Também nos EUA há a má consciência de esquerda, nossa velha conhecida (ainda que seja a esquerda lá deles), a lhes dizer que, no fundo, tudo lhes é permitido porque têm bons propósitos. Malvados são os outros.
Obama está apenas no primeiro ano de seu segundo mandato. Nessa toada, e escrevi isso aqui quando estourou o caso da espionagem contra jornalistas, deixou de ser uma hipótese amalucada a chance de que não termine o mandato. A perseguição empreendida pelo Fisco a grupos de oposição, sozinha, já é causa de impeachment. Conseguirá se recuperar nos três anos e meio que tem pela frente? Vamos ver. Por enquanto, as coisas só pioram porque o verdadeiro Obama — não o demiurgo inventado pelos deslumbrados — se revela.
Não! Não há empate nenhum! Obama venceu por larga margem o adversário Bush no quesito hipocrisia, bravata e autoritarismo. O republicano pôs o estado no encalço do terror e avisou: muitos americanos passarão a ser monitorados. O jogo era explícito. O democrata prometeu acabar com isso, mas universalizou a espionagem e não avisou ninguém.
Sob certo ponto de vista, poder-se-ia até dizer, com algum exagero, que Bush recorreu a medidas autoritárias para combater o terror. Obama fez outra coisa: recorreu ao estado policial para fazer política — muito especialmente contra adversários ideológicos internos. Como evidencia o arquivo deste blog, posso estar estupefato pela ousadia, mas não surpreso. Que ironia! Em muitos aspectos, Obama é a primeira grande cria política da Internet. E ele resolveu usar essa mesma Internet para exercitar o velho vício do mando.
Por Reinaldo Azevedo

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