Por Carlos Vianna Junior
Publicada em 08/08/2013 00:17:51
Contudo, Carrilho, não acredita que o investimento em especializações por parte dos profissionais e o investimento em novas faculdades e escolas técnicas por parte do governo vão impedir que o Brasil importe mão de obra. “O investimento do governo, além de insuficiente, veio muito tardiamente. Além disso, existe o problema da qualidade do ensino básico que compromete também a quantidade e a qualidade dos engenheiros disponíveis no mercado” pondera.
De acordo com Cardilho, a má preparação dos alunos de segundo grau acaba por fazer com que muitos encontrem dificuldades em terminar os cursos que exigem muito de uma boa base em matemática e física. “Mais de 50% dos alunos de engenharia não conseguem terminar o curso de cinco anos no seu prazo mínimo. Além disso, mais de 30% desistem no meio do curso”, afirma. Esse é um dos fatores que fazem Cardilho não ter dúvidas que a importação de engenheiros será necessária num futuro próximo.
Falta de planejamento governamental
Para Caiuby Alves Costa, doutor em Engenharia pela Universidade de Paris e ex-diretor da Escola Politécnica da UFBA, o problema no campo da engenharia não é de falta de profissionais, mas sim de planejamento governamental. “Há essa projeção de carência por conta de uma onda desenvolvimentista iniciada recentemente, mas antes disso, pela falta de investimento em infraestrutura, não foram poucos os engenheiros que deixaram a área por falta de trabalho”, conta.
Costa acrescenta ainda que essa demanda é fruto de uma necessidade circunstancial e não fruto de uma política pública que teria os engenheiros como principais parceiros. “Por falta de visão de futuro somos ainda um país exportador de commodities. Seria muito mais lucrativo já termos agregado valor aos produtos que vendemos, através do desenvolvimento de tecnologia e valorização da engenharia nacional”, explica.
O presidente do Crea, Marco Antônio Amigo, explica que está é a quarta onda desenvolvimentista pela qual passa o país e que nenhuma teve um planejamento prévio. “A primeira foi com a colonização, a segunda aconteceu depois da Primeira Guerra Mundial, seguida pela onda após a Segunda Guerra. Agora vivemos a quarta e seguimos a mesma proposta de tentar suprir necessidades em cima da hora”, disse.
Ele aponta que até mesmo os investimentos em formação da parte do governo vai esbarrar na questão tempo. “Mesmo que se continue investindo em formação (na Bahia algumas novas faculdades estão sendo abertas, inclusive no interior), é necessário cinco anos para concluir um curso básico, e essa formação é insuficiente para as exigências específicas do mercado, a qual deve ser continuada com cursos de especialização, que demanda mais alguns anos”.
Atuação de estrangeiros
Para o presidente do Crea, existem outras maneiras do governo encarar o problema da carência de engenheiros no mercado, caso se queira aproveitar o desenvolvimento do país para a geração de oportunidades para os brasileiros. “Além da possibilidade de oferecer cursos complementares para os nossos técnicos, o que exigiria mais um ou dois anos de estudo para elevá-los ao grau de engenheiros, se poderia fazer um chamamento em outras áreas de saber próximas à engenharia. Um físico, por exemplo, tem toda a condição de, com mais dois anos de estudos, ser capacitado a exercer funções dentro da área de engenharia”, afirma.
Enquanto isso, a entrada de estrangeiros no mercado nacional de engenharia já começou. De acordo com Marco Antônio Amigo, de 2 a 3% dos engenheiros no Brasil são estrangeiros. “Não são números que denotem o início de uma invasão, eles representam mais um quadro que tem se mantido nos últimos anos. Contudo, a expectativa é que esse número comece a crescer em breve. Mas o Crea estará alerta no sentido de fiscalizar a sua atuação”, disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário